domingo, 7 de dezembro de 2008

a morte.
ok. drama. muito drama. mas eu quis morrer nesse fim de semana. quando me operei do cisto na tireóide, descobri como o nosso pescoço é importante. nem ligava para o rapaz até então, mas ali, aos 14 anos, percebi a importância e passei a nutrir grande respeito. agora, aos 22, quando sofro de uma infecção na garganta com uns enfeites hemorrágicos, vi como a "campainha" faz um diferença. não me tirem as amigdalas... me tirem o diabo da "campainha"! e ainda estou aceitando morfina, por sinal.
somos todos uns pobres-diabos.
e de fato, estou me sentindo uma pobre-diaba. mas ai veio a revista da TAM me levar às nuvens com a entrevista de uma criatura iluminada. bendito seja o amigo que emprestou dinheiro para que o José pudesse comprar, aos 19 anos, seu primeiro livro! realmente, não sei quem foi o amigo, mas sei que hoje, o José é Saramago. ele fala que no final das contas, somos todos uns pobres-diabos, e hoje, eu concordo mais que demais. e concordei com outras coisas mais, como quando ele diz que, em um texto, "cada palavra dá origem à palavra seguinte", mas fiquei "cafusa" quando ele afirma não acredita em inspiração. lasquei-me, até porque esse é o tema da coluna que sairá essa semana. mas ok, a unanimidade sempre foi chata. sei que ele diz realmente não bota fé na inspiração e que a primeira condição para escrever é sentar-se. simples assim. é quando você fica envolto por vários pensamentos superficiais, que são controlados por nós mesmos, mas aí, vez ou outra, tem a sorte de captar um pensamento subterrâneo, que desenvolve-se por si só. é quando ele cita que " escrever é improvisação". e eu lembro quando me falaram que "viver é arte do improviso". ai penso como Fernando e arrisco dizer que escrever é preciso, viver não é preciso, e somos todos um grande improviso. mas quem sou eu? ele é Saramago. e depois de 44 obras, ele pode o que quiser. por sinal, ele acabou recentemente seu último livro, "A Viagem do Elefante", livro sobre o qual, em entrevista, ele simplifica: "sobre aquilo que o livro conta, eu não direi nada". muito justo. ele só cita o elefante e a viagem. o resto pode-se imaginar. mas ele fala algo que me fez lembrar alguns colegas escritores. sobre quando dá o ponto final, ele diz "sinto alívio e pena. alívio porque acabou aquela preocupação constante. mas, mas ao mesmo tempo, pena, como se perguntasse: acabei o livro, e agora, o que é que eu faço?". começa outro. né? ainda mais agora que Saramagou driblou a morte e diz por aí que está disponível a viver uns anos mais... e para quem quiser ver essa vida, próximo ano deve sair o filme "União Ibérica". um filme do Miguel Gonçales, diretor português que acompanhou Saramago e Pillar (sua esposa) por mais ou menos três meses e fez esse documentário. no mínimo, será brilhante.

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